Regras antitruste: UE obriga Apple a abrir tecnologia NFC em iPhones

Adriano Camargo
Adriano Camargo

A Comissão Europeia tornou juridicamente vinculantes os compromissos oferecidos pela Apple sob as regras antitruste da UE. Esses compromissos visam resolver as preocupações da Comissão em relação à recusa da Apple em permitir que concorrentes acessem a tecnologia padrão usada para pagamentos por aproximação em iPhones nas lojas, conhecida como Near-Field-Communication (NFC).

iPhone NFC liberado UE
Pagamento via NFC (Imagem: Divulgação)

Preocupações da Comissão Europeia

O Apple Pay é a carteira digital da Apple, usada por usuários de iPhone para pagamentos em lojas e online. Os iPhones funcionam exclusivamente com o sistema operacional iOS, controlado inteiramente pela Apple, incluindo as condições de acesso para desenvolvedores de carteiras digitais.

A Comissão Europeia encontrou indícios preliminares de que a Apple possui um poder de mercado significativo no mercado de dispositivos móveis inteligentes e uma posição dominante no mercado de carteiras digitais móveis no iOS. O Apple Pay é a única carteira digital que pode acessar o hardware e software NFC no iOS para realizar pagamentos em lojas, já que a Apple não disponibiliza esse acesso para desenvolvedores de carteiras digitais de terceiros.

Na investigação, a Comissão concluiu preliminarmente que a Apple abusou de sua posição dominante ao recusar fornecer o acesso ao NFC no iOS para desenvolvedores concorrentes de carteiras digitais, reservando tal acesso apenas para o Apple Pay. Essa recusa teria excluído os concorrentes do Apple Pay do mercado, resultando em menos inovação e escolha para os usuários de carteiras digitais no iPhone.

Esse comportamento pode violar o Artigo 102 do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia (TFUE), que proíbe o abuso de posição dominante.

Comprometimento da Apple

Para abordar as preocupações da Comissão, a Apple inicialmente propôs os seguintes compromissos:

  • Permitir que fornecedores de carteiras digitais de terceiros acessem o NFC nos dispositivos iOS gratuitamente, sem a necessidade de usar o Apple Pay ou Apple Wallet. A Apple habilitará o acesso ao NFC no modo Host Card Emulation (HCE), que permite armazenar credenciais de pagamento com segurança e realizar transações usando NFC, sem depender de um elemento seguro no dispositivo.
  • Aplicar um procedimento justo, objetivo, transparente e não discriminatório, além de critérios de elegibilidade para conceder acesso ao NFC a desenvolvedores de carteiras digitais de terceiros.
  • Permitir que os usuários definam facilmente um aplicativo de pagamento HCE como seu aplicativo padrão para pagamentos em lojas, utilizando funcionalidades relevantes como Field Detect, Double-click e ferramentas de autenticação como Touch ID, Face ID e senha do dispositivo.
  • Estabelecer um mecanismo de monitoramento e um sistema separado de resolução de disputas para permitir uma revisão independente das decisões da Apple que restrinjam o acesso.
  • Aplicar os compromissos mencionados a todos os desenvolvedores de aplicativos móveis de terceiros estabelecidos no Espaço Econômico Europeu (EEE) e a todos os usuários de iOS com um ID Apple registrado no EEE, mesmo durante viagens temporárias fora do EEE.

iPhone NFC UE capa

Entre janeiro e fevereiro deste ano, a Comissão testou no mercado os compromissos da Apple e consultou todas as partes interessadas para verificar se eles resolveriam as preocupações de concorrência. À luz do resultado desse teste, a Apple ajustou a proposta inicial e se comprometeu a:

  • Ampliar a possibilidade de iniciar pagamentos com aplicativos de pagamento HCE em outros terminais certificados pela indústria, como telefones de comerciantes ou dispositivos usados como terminais (SoftPOS).
  • Reconhecer explicitamente que os desenvolvedores de HCE não são impedidos de combinar a função de pagamento HCE com outras funcionalidades ou casos de uso de NFC.
  • Remover a exigência de que os desenvolvedores possuam uma licença como Provedor de Serviços de Pagamento (PSP) ou um acordo vinculativo com um PSP para acessar o NFC.
  • Permitir acesso ao NFC para desenvolvedores pré-construírem aplicativos de pagamento para fornecedores de carteiras digitais de terceiros.
  • Atualizar a arquitetura HCE para cumprir com os padrões da indústria em evolução usados pelo Apple Pay e continuar a atualizar os padrões mesmo que não sejam mais implementados pelo Apple Pay, sob certas condições.
  • Permitir que os desenvolvedores solicitem aos usuários a configuração fácil de seu aplicativo de pagamento padrão e redirecionem os usuários para a página de configurações do NFC padrão, permitindo a definição com apenas alguns cliques.
  • Cumprir as mesmas especificações de padrões da indústria que os desenvolvedores de aplicativos de pagamento HCE e proteger as informações confidenciais obtidas no contexto de uma auditoria.
  • Reduzir os prazos para resolução de disputas e oferecer garantias adicionais de independência e procedimentais para o monitoramento do cumprimento dos compromissos.

Validade e Monitoramento

A Comissão concluiu que os compromissos finais da Apple abordariam suas preocupações sobre a restrição da empresa ao acesso de desenvolvedores de carteiras digitais de terceiros aos pagamentos NFC em lojas para usuários de iOS na UE. Assim, decidiu torná-los juridicamente vinculantes para a Apple.

Os compromissos permanecerão em vigor por dez anos e se aplicarão em toda UE. A implementação será monitorada por um administrador de monitoramento nomeado pela Apple, que reportará à Comissão durante o mesmo período.

Esses compromissos da Apple, agora juridicamente vinculantes, visam garantir maior concorrência e inovação no mercado de pagamentos por aproximação em dispositivos iOS, beneficiando desenvolvedores e usuários. Com a abertura do NFC para desenvolvedores de terceiros, espera-se que a oferta de carteiras digitais e funcionalidades de pagamento em dispositivos iOS se diversifique significativamente nos próximos anos.

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Adriano Camargo
Adriano Camargo
Jornalista especializado em tecnologia há cerca de 20 anos, escreve textos, matérias, artigos, colunas e reviews e tem experiência na cobertura de alguns dos maiores eventos de tech do mundo, como BGS, CES, Computex, E3 e IFA.
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