Uma nova pesquisa realizada por cientistas da China, Itália e Estados Unidos descobriu um período da história humana durante o qual 98,7% da população ancestral foi perdida. Publicado na revista Science em 31 de agosto, o estudo verificou que, no decorrer de 117 mil anos, o número de ancestrais humanos pode ter chegado a apenas 1.280 indivíduos reprodutores.
Estudo pode explicar grande lacuna no registro fóssil
Através de um novo método chamado processo coalescente rápido em tempo infinitesimal (FitCoal), os pesquisadores foram capazes de determinar inferências demográficas antigas com sequências genômicas humanas modernas. A partir desses dados, o FitCoal conseguiu detectar um "antigo gargalo grave", calculando como seria essa antiga perda de vidas e diversidade genética.
De acordo com as novas informações, a equipe conseguiu determinar que, durante um período entre 800 mil e 900 mil anos atrás, apenas 1,3% dos nossos ancestrais sobreviveram. E isso explicaria uma grande lacuna no registro fóssil africano e euroasiático exatamente durante a transição entre o início e o meio do Pleistoceno.
Acredita-se que uma das principais causada dessa queda populacional foram eventos climáticos extremos, como secas severas, mudanças de temperatura e a consequente diminuição de fontes de alimento, com alguns animais entrando em extinção. Além de causar as milhares de mortes entre os ancestrais humanos, as novas condições os forçaram a migrar.
“A lacuna nos registos fósseis africanos e euroasiáticos pode ser explicada cronologicamente por este gargalo no início da Idade da Pedra”, explicou o co-autor do estudo e antropólogo da Universidade Sapienza, Giorgio Manzi, num comunicado. “Isso coincide com este período proposto de perda significativa de evidências fósseis.”
Período pode ter perdido diversidade genética, mas também pode "ter criado" mais
Segundo as informações da pesquisa, durante este "gargalo", estima-se que 65.85% da diversidade genética atual pode ter sido perdida. Isso, inclusive, prolongou o período com um número mínimo de humanos capazes de procriar com sucesso. Acredita-se que este número tenha chegado a apenas 1.280 indivíduos reprodutores vivos, o que foi uma grande ameaça à existência da espécie.
Contudo, os pesquisadores também destacam que a junção de todos esses eventos pode ter sido um fator de contribuição para um processo de especiação. Ou seja, a criação de duas novas espécies a partir de uma única linhagem. Conforme o estudo explica, o resultado da conversão de dois cromossomos ancestrais pode ter sido o cromossomo 2, segundo maior cromossomo humano dos humanos modernos. Compreender essa divisão é um novo passo para identificar último ancestral comum dos denisovanos, dos neandertais e do Homo sapiens (seres humanos modernos).
O co-autor e especialista em genômica evolutiva e funcional da East China Normal University, Yi-Hsuan PAN, explicou em um comunicado que a nova descoberta abre um novo campo na evolução humana porque evoca muitas questões, "tais como os locais onde estes indivíduos viveram, como superaram as mudanças climáticas catastróficas e se a seleção natural durante o gargalo acelerou a evolução do cérebro humano”, detalhou.
Para LI Haipeng, também co-autor do estudo e geneticista populacional teórico e biólogo computacional do Instituto de Nutrição e Saúde de Xangai, as novas descobertas são apenas o começo. “Os objetivos futuros com este conhecimento visam pintar um quadro mais completo da evolução humana durante este período de transição do início ao Pleistoceno Médio, que por sua vez continuará a desvendar o mistério que é a ancestralidade e evolução humana inicial”, afirmou.
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