Uma estação de rádio dos Estados Unidos se tornou a primeira da história do país a usar um DJ de Inteligência Artificial durante todo um turno. A partir do software RadioGPT, desenvolvido pela empresa Futuri, o Live 95.5 em Oregon criou a AI Ashley a partir da voz da apresentadora humana Ashley Elzinga com seu consentimento.
Os novos experimentos com IA no rádio já dividem opiniões. Enquanto alguns temem a diminuição de empregos e o não pagamento justo pelo uso de vozes, outros destacam os benefícios e a importância de radialistas aprenderem a usar a ferramenta.
Radialista foi paga pelo uso de sua voz na AI Ashley
A apresentadora Ashley Elzinga, dona da voz usada pela AI Ashley, afirmou que seus direitos foram esclarecidos quando ela concordou em participar do projeto. Elzinga foi paga pelo uso de sua voz e as empresas de IA não têm direito de propriedade e uso livre sobre quaisquer vozes, conforme ela explicou.
Isso significa que, embora já tenha a captação da voz da radialista para usar a AI Ashley outras vezes, empresas como a Futuri precisam de autorização para usos futuros, com pagamentos a cada projeto.
O fundador e CEO da Futuri Dan Anstandig destacou a utilidade da tecnologia em um período de demissões e cortes na indústria. “Temos menos pessoas num momento em que há mais apetite do consumidor e penso que a IA pode ajudar-nos a suprir esta lacuna”, afirmou Anstandig em entrevista à ABC News.
É justamente essa possibilidade de substituir o profissional humano, contudo, que preocupa os radialistas. O RadioGPT usa o modelo de linguagem grande GPT-4, criado pela OpenAI para o chatbot ChatGPT. De acordo com Anstandig, a ferramenta é capaz de encontrar novas histórias, escrever roteiros e apresentar programas de rádio com diferentes vozes geradas artificialmente.
Expansão da IA preocupa radialistas
Recentemente, uma conferência de rádio realizada em Dallas, nos Estados Unidos, reuniu vários profissionais do meio na discussão sobre o uso de IA neste ramo. Alguns deles foram fortemente contra e destacaram os muitos receios que sentem. “Fingir que a IA não será um evento de extinção em massa de empregos neste país, seja no rádio ou em qualquer outra coisa, você está se enganando,” afirmou Shawn Tempesta, apresentador do 102.7VGS em Las Vegas, Nevada.
Jessica Bonilla, do Mix 105.1 em Orlando, ressaltou o medo de que a tecnologia substitua os profissionais humanos. “Sempre que as empresas conseguem descobrir uma maneira mais barata e rápida de realizar um trabalho, elas a aceitam", afirmou na ocasião.
Como acontece em todas as áreas, porém, nem todos os radialistas têm uma visão negativa acerca do futuro do IA no rádio. Em entrevista à ABC News, Toby Knapp destacou que a IA já o ajuda muito em seu trabalho na 97.1WASH-FM, em Washington, D.C. “Como personalidade musical, não toco CDs nem coloco vinil na fila… os talentos de hoje precisam abraçar o que a tecnologia pode fazer”, afirmou. Conforme revela em seu blog, Knapp já usa o ChatGPT para fazer curadoria de notícias e preparar entrevistas.
Sobre a replicação de vozes, porém, Knapp destaca que há elementos humanos que a IA não conseguiria imitar. “Você não pode automatizar o companheirismo. Então é por isso que vejo isso como uma extensão, um próximo passo, uma evolução do que fazemos. Minha mensagem para qualquer talento musical é: não tenha medo disso. Porque só você pode fazer o que faz. E isso é extremamente importante. Você não pode substituir isso. Você pode cloná-lo? Claro. Essa clonagem pode ajudá-lo em apuros? Podemos discutir essas opções. Mas não acredito que seja uma substituição completa, nem que seja inerentemente mau”, afirmou.
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